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Sobre quando sua vida parece um inferno – e como sair dele

”Você me tirou do inferno”, esta é uma frase que já ouvi de clientes de coaching algumas vezes. Com frequência eles vêm até mim em um momento especial ou delicado de suas vidas, refletindo a respeito do que fazer profissionalmente ou sobre como está sua vida atual, nas relações como um todo. É claro que eu mesma não tiro ninguém do “inferno”, é a própria pessoa quem sai dele por sua vontade, depois que consegue enxergar a situação de uma outra maneira. Como coach, atuo como um guia de trilhas em montanhas íngremes e desafiantes, ajudando profissionais a se conectarem consigo mesmo e suas forças.

POSSÍVEIS DESCRIÇÕES DO INFERNO PESSOAL

No dia a dia, esse inferno pode aparecer de muitas formas. No trabalho, pode ser um chefe difícil de lidar, cobrança excessiva por resultados, sensação de ser uma fraude, colegas que se unem em panelinhas, que o excluem ou atrapalham seu trabalho e tantas outras coisas. Na vida pessoal, pode ser uma questão familiar, insegurança com relação ao futuro, filhos com dificuldades na escola, problemas financeiros e assim por diante. Tudo isso dói. Você trabalha, trabalha, coloca o seu melhor e não tem conseguido se sentir feliz e satisfeito.

Muita gente nem percebe mais que está irritado e mal-humorado o tempo todo, passa até a achar isso comum, porque já se acostumou. Mas isto não é normal.

A vida não precisa ser dura, chata, pesada. Mas é preciso fazer algo para mudar esta situação. Quantas vezes eu também não me encontrei ou me encontro neste inferno. Sabe que inferno estou me referindo? Aquele criado pelos pensamentos repetitivos que nos fazem cair em armadilhas, em um círculo vicioso, que dispara reações que acabam nos levando sempre ao mesmo lugar. Por exemplo, certa vez conheci uma pessoa que me fazia sentir irritada com frequência, pois sempre que pedia algo ela não fazia e ainda reclamava. Então, eu reagia de forma irritada, dava ordens e reclamava e achava que estava sendo educada pois tinha razão. Comecei então a fazer um exercício de observar o que em mim reagia. É até chato falar disso, pois percebi comportamentos nada bonitos de minha parte. Eu estava entrando em um padrão inconsciente.

Nesses momentos o ideal seria buscarmos dentro de nós o que pode estar motivando aquela reação. Pode ser que você descubra que isso se repetiu em outros momentos de sua vida, até mesmo enquanto criança. Olhar para isso pode ajudá-lo a identificar este padrão e tentar corrigi-lo. É difícil entrar em contato com nossa parte não tão bonita, nós a negamos, olhamos apenas para o que o outro faz. O outro é sempre o culpado. Protegidos pelo nosso ego caminhamos cegos, reagimos sempre igual e com isso ficamos no mesmo lugar.

COMO SAIR DO INFERNO?

Hoje percebo que somente quando queremos de verdade ver o que nos coloca neste inferno é que de fato poderemos sair de lá. Reconhecer é o primeiro passo, e o olhar é para dentro e não para fora.  Primeiro é preciso se sentir vulnerável, para conseguir abrir espaço para enxergar o que não compreende e precisa de ajuda. E isso não é fácil. Mas é a partir daí que você poderá começar esta jornada.

Nosso ego cria armadilhas de medo, então fujo de olhar para tudo que me incomoda e me coloco na posição de vítima, reclamando de tudo que nos cerca. E esta é uma das causas que faz com que muita gente tenha preconceito em buscar ajuda, pois para isso tem que se reconhecer vulnerável e nosso ego faz de tudo para isso não aconteça.

Mesmo após ver suas minhas dificuldades, você ainda tem que aprender a lidar com elas, ou seja, todo dia observar, refletir e buscar se autoeducar. É preciso aprender a conviver com perguntas dentro de si, entender que não preciso ter soluções imediatas sempre, que viver o processo é necessário em muitos momentos. Assim como uma mãe gesta um filho por 9 meses, aprender a gestar perguntas dentro de nós.

É exatamente por isso que os processos de desenvolvimento (terapia ou coaching) podem ser tão poderosos, pois normalmente apoiam a pessoa a se descobrir e responder suas perguntas internas, aquelas mais escondidas. 

Um dia destes em uma palestra, escutei de uma mestra: “Temos três ouvidos, um que ouve palavras, outro que houve sons e outro que houve sentidos”, normalmente usamos mais o primeiro e o segundo, o terceiro é distorcido pelos nossos preconceitos. Por isso, se aprendermos a digerir o que ouvimos, daremos tempo para a pergunta brotar no lugar do preconceito. Mas este processo é como uma planta que precisa ser cultivada todos os dias.

PRECISO CONTRATAR UM PROFISSIONAL PARA APOIAR MEU DESENVOLVIMENTO?

É possível subir o monte Everest sozinho? Eu não sei. O que eu sei é que fazer isso sem apoio de ninguém ou sem amparo torna tudo mais arriscado e difícil e com mais chance de desistência. Mesmo contratando um profissional, alcançar o cume dependerá muito de você e do tipo de apoio que receberá. Assim como tentar escalar uma grande montanha, pode ser que não aconteça na primeira tentativa, mas o resultado chegará com persistência, planejamento, instrumentos corretos e no esforço contínuo de se conhecer e se desenvolver.

Quando falo isso, não estou dizendo que todas as pessoas têm que fazer coaching ou terapia para conseguir se desenvolver. Há pessoas em diferentes estágios. Há quem viva em harmonia arando a terra e quem trabalhe com a terra e viva reclamando. Não tem relação com o externo, e sim em como nos relacionamos com o mundo externo.

Se você acredita que precisa de ajuda neste caminho de desenvolvimento, deixo uma dica que para mim é crucial. Observar se quem vai atender você passou por um processo de desenvolvimento também, se o profissional tem vivência e profundidade por trás do que fala, não apenas conhecimento dos livros. Este será um grande diferencial.

Confiança no futuro é essencial. Existe um fluxo na vida que nos leva para ele, que traz movimento. Se aprendermos a confiar nisso e deixarmos fluir, poderemos viver com mais harmonia, aceitando e lidando com cada situação que a vida nos trouxer.