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Construa o seu futuro, porque, de qualquer maneira, você já o está fazendo!

Andando em um parque em São Paulo eu li a seguinte frase: “Só existem dois dias no ano em que você não pode fazer nada pela sua vida: ontem e amanhã”.

Se só o momento presente existe, então nossa ação hoje é muito importante, pois ela está construindo o nosso futuro e ao mesmo tempo criando a nossa história.

E a nossa ação, de onde vem?

Através de nossos pensamentos, sentimentos, diálogos internos, tomamos decisões que se transformam em ações. Mesmo que decidamos não fazer algo, isso já é uma ação no presente que constrói algo no futuro.

A ontologia da linguagem diz que linguagem é ação, ou seja, a linguagem faz as coisas acontecerem, é generativa. Dependendo do que estiver pensando, é o que está criando de fato.

Nossas escolhas no presente são dadas por crenças que nasceram de experiências que julgamos serem boas ou ruins e se tornaram verdades para a nossa mente. Quando uma situação indesejada se repete inúmeras vezes, tem algo ali que precisamos aprender sobre nossa forma de pensar, sentir e agir. Quando o ser humano tem a possibilidade de refletir sobre suas experiências e se autoconhecer, torna-se livre para decidir se estas ainda fazem sentido ou se quer mudá-las para construir algo diferente no futuro.

Imaginem que uma organização é formada principalmente por pessoas (além, claro, dos recursos físicos, tecnológicos etc.), e que é a união destas diversas consciências ou inconsciências que formam o todo. A chave do desenvolvimento da organização está em tomar consciência destas escolhas conjuntas, crenças e valores que estão norteando as decisões da equipe e chegar a uma visão comum sobre o futuro e como alcançá-lo.

Em minha abordagem para o desenvolvimento humano e organizacional, me inspiro no arquétipo de passado, presente e futuro da antroposofia. Para a antroposofia — uma filosofia sistematizada inicialmente por Rudolf Steiner —, os arquétipos têm uma grande importância por permitirem a compreensão ampliada a respeito dos fenômenos psíquicos e sociais. Quando olhamos para o futuro através de nossos valores e tomamos consciência de nossas potencialidades, temos a chance de refletir se o que estamos fazendo hoje está coerente com nossos propósitos e quais ações nos levarão para o futuro que desejamos.

Em 2016, na entrada de uma exposição em São Paulo, havia uma frase com um conceito da tradição africana, que é o Sankofa (parte de um conjunto de ideogramas chamado Adinkra) que é representado por um pássaro que volta a cabeça à cauda. O símbolo é traduzido por “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”. Ou seja, esta sabedoria está presente em diferentes tradições.

Otto Scharmer, através da Teoria U, nos convida a ter conversas que nos levem a nos transformar para superar o paradigma da separação em que vivemos, e, assim, liderar o futuro que queremos construir.

Tentando captar a essência destes diferentes autores e abordagens, o que fica claro para mim é que o futuro está sendo criado todos os dias e que podemos transformá-lo. Não podemos ser reféns do que está acontecendo, nem esperar que as coisas melhorem ou os outros mudem.

Somente a própria pessoa ou organização pode buscar seu desenvolvimento. O coach ou o consultor (entre tantos outros profissionais que trabalham com desenvolvimento) podem ser facilitadores deste processo individual e/ou organizacional.

Não controlamos o que irá acontecer daqui a pouco, mas podemos ter mais consciência de nós mesmos e de nossas relações. Isso é o que ampliará nossa capacidade de ver o presente e visualizar nossas metas de futuro de forma mais consciente.

Visualizar o futuro que queremos é uma forma de começar a materializá-lo. E se ele não acontecer pode ser sinal de alguma incoerência. Ao refletirmos sobre o que está impedindo o futuro de se materializar da forma como imaginamos, ganhamos um pouco mais de consciência, de cada um ou do grupo como um todo. E assim o caminho vai se construindo.

Quando somos crianças vivemos no mundo da imaginação, criando, com a cabeça nas nuvens.

Conforme crescemos, vamos colocando os pés no chão, e deixando de criar, imaginar, e com isso muitas potencialidades também ficam adormecidas.

O convite que deixo aqui é fazer um exercício de pensar no futuro com a cabeça nas nuvens, o coração pulsante, como as crianças, e com os pés no chão como um adulto precisa ter para fazer escolhas maduras que irão apoiá-lo a construir o seu futuro e do seu entorno.

Escrito por Mirlene Marcos Ramos

Foto: www.sankofastudies.com/gallery/sankofa-art-gallery/